quinta-feira, 25 de março de 2021

ESCREVER LETRA CURSIVA Lembro-me do meu primeiro dia de aula, eu já tinha sete anos e meio e pela imensa vontade que eu tinha de aprender a ler e a escrever sentia uma enorme alegria. Erámos 116 estudantes entre 7 e 14 anos em uma pequena capela. Infância Brasileira era a cartilha usada. A primeira lição eram as vogais. Porém a professora a abriu quase no final onde se encontrava o alfabeto e me explicou que eu ia ter que olhar e gravar o nome de cada letra. A primeira coisa que fiz foi decorar, repetindo a sequencia do o alfabeto. Depois tinha que olhar para letra e fixar seu formato para reconhecê-las fora da ordem alfabética e associar o nome da letra à sua representação visual e ao som. No final do horário de aulas do primeiro dia na escola, estas propostas haviam sido atingidas. Uma folha de caderno com um buraquinho era colocada, aleatoriamente, sobre as letras para serem reconhecidas. No segundo dia é que fui para primeira lição, as vogais, os ditongos e as vogais acentuadas e, posteriormente, as famílias de sílabas. A escrita acontecia ao mesmo tempo, decorava-se o alfabeto, reconhecia as letras, passava-se a escrevê-las. Era explicado que a letra de escrever era diferente da letra dos livros. Para que as letras ficassem uniformes era usado caderno de caligrafia. A sequencia da aprendizagem da leitura partia dos fonemas orais: quando a corrente de ar é liberada apenas pela boca para os fonemas nasais: quando a corrente de ar é liberada parcialmente pela boca e pelas narinas e os fonemas surdos: aqueles que não promovem a vibração das pregas vocais e os sonoros: que promovem a vibração das pregas vocais. “Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.” Rubem Alves
No final do século passado, construí uma escola e até 2003 nunca tinha visto ninguém escrever com letra de forma, somente com letra cursiva. Meu primeiro contato com pessoas que só escrevem letra de forma foi a Secretária da escola que me deixava angustiada escrevendo, letra por letra separadas, em caixa alta. Enquanto ela escrevia uma palavra eu escrevia várias com letra cursiva. Também soube que em um órgão fiscalizador e orientador de profissão era estabelecido que a assinatura fosse com letra cursiva. Soube de doutores que precisou aprender. Intrigada, resolvi pesquisar. Algumas considerações: Falta consenso entre especialistas quanto à orientação da escrita cursiva para crianças, desde o início do processo de alfabetização. Particularmente considero ser muito mais difícil iniciar com letra de forma e mudar posteriormente. É como costurar deixando retalhos espalhados pela mesa e até caindo no chão ao invés de já serem colocados num local específico. É trabalho dobrado. É realizar duas vezes a mesma etapa o que está deixando de acontecer. É importante escrever à mão para desenvolver algumas funções cognitivas como a óculo-manual. A aprendizagem é concebida como uma transmissão cultural que combina ciência e arte, para criar ecossistemas de aprendizagem mais produtivos e onde todas as crianças aprendam, tendo em consideração a sua neurodiversidade. É a neuropsicopedagogia que pode ter um impacto positivo no sucesso intra e interpessoal dos estudantes. (Vitor da Fonseca - Professor Catedrático Agregado, Universidade de Lisboa - Rev. psicopedagogia. vol.31 no. 96 São Paulo 2014) A escrita cursiva necessita e ajuda à coordenação motora. A justificativa utilizada é de que é preciso disciplina do estudante e muita concentração para formar as letras cursivas e demanda habilidade extrema de motricidade fina e percepção visual. (Não dá para desejar que o mundo te seja leve, pois inventaste de ser intelectual. CORAZZA, 2007, p. 108) Pais e professores, tendem desejar que filhos e alunos se esforcem o mínimo possível. No entanto, o esforço é essencial para o domínio, excelência e o consequente sucesso de qualquer atividade. As pessoas mais bem sucedidas são as que batalharam muito ao longo da existência. Também no aprendizado é inegável a importância do esforço. Essa modalidade por exigir maior empenho de integração entre as áreas simbólicas e motoras do cérebro auxiliam na aquisição de maior fluência (rapidez e perfeição natural). No entanto, a aprendizagem da letra cursiva vai muito mais além do aspecto motor e do comprometimento, de agilidade e duração, uma vez que a partir do ensino fundamental o estudante teria que demonstrar tal habilidade o que nem sempre ocorre e acaba sendo comum o seu uso durante a vida adulta. Enquanto observo o desenvolvimento dos acontecimentos e aguardo os resultados ainda considero importante a escrita cursiva. Procedimentos que antecedem a letra cursiva: O caminho é amplo são diferentes fases de aprendizagem. Movimento de pinça que começa antes do primeiro ano. Em média, aos 9 meses e, futuramente será necessário para exercitar a força e a capacidade de segurar objetos. Deixe o bebe se lambuzar tentando comer sozinho.
Desenvolvimento da mão. Nos 3 primeiros anos, explorar as mãos, com massinhas ou outros meios que exercitem essa habilidade. Até dar nós e laços pode ocorrer. Entre os 3 e 4 anos, começar o desenvolvimento de linhas horizontais e verticais. Os pequenos demonstram explorar mais para essas formas com desenhos de contornos mais definidos. Os que possuem a inteligência espacial (visualizar com os olhos da mente) mais aguçada já vão além das garatujas com desenhos completos que surpreendem. Em alguns, já desperta o desejo de ler e escrever e, atender ao pedido deles, sem forçar, pode ser um incentivo. Geralmente querem fazer o desenho e a letra da mamãe.
Executar pontilhados aperfeiçoam os movimentos e, normalmente o momento é por volta d os 5 anos. A partir dos 6 anos apresentar à letra cursiva que exercita movimentos um pouco mais complexos. (desnecessário caligrafia, basta ser possível entender a escrita quer seja menor ou maior que da maioria, reta na vertical ou itálica. Pode estar representando traços da personalidade) “Nota-se que criança alfabetizada com letra cursiva acerta mais questões ortográficas, porque a memória motora é melhor do que quando se escreve com outro tipo de letra.” Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/32286/000786667.pdf?sequence=1. Algo que me intriga e pretendo pesquisar é que muitos ao invés de denominar as letras pelo nome as apelidam pelo som fechado. Ex.: ê de elefante - ô de objeto

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