domingo, 7 de setembro de 2008

O BONECO ESPERANÇA

Na maior usina de lixo do DF, em meio a mau cheiro, sujeira e desprezo ouvia-se os soluços de um pote de creme, que chamou a atenção de garrafas e tampinhas que ali estavam conformadas com seu destino: ficar jogados na terra ou quem sabe serem levados pela enxurrada até mananciais de água o que, de qualquer forma, durariam centenas de anos, sem nenhuma utilidade, pelo contrário atrapalhando a produção vegetal, enfeiando, sendo depositários de micros organismos maléficos, poluindo.
O pote chorava tanto que as tampinhas fizeram uma roda em volta dele para consolá-lo. nada do que diziam foi capaz de convencê-lo de que era o destino, de que todos ali já haviam cumprido o seu papel e o dele fora um dos mais importantes. A garrafa toda imponente disse para ele se lembrar das cenas de alegria, dos sorrisos, da melhoria das auto-estima de tantas mulheres após usar o creme que ele continha para embelezar suas madeixas. Embora parasse de soluçar e esboçasse um sorriso o pote continuava inconsolável. Eu por exemplom, disse a garrafa : fui destinada a ser transportadora de água sanitária. O líquido que transportei matou milhões de germes, evitou doenças, branqueou roupas manchadas, limpou inúmeros utensílios... tanta utilidade me alegra e me faz feliz! Foi um papel e tanto!. E vocês tampinhas?! Digam ao pote como foram úteis... uma a uma foi desfilando o bem que fizeram: eu fui tampa de amaciante, que cheiro, que gostosura tocar nas roupas onde o que eu protegia era usado, eu fui tampa de yogurte, vi muitas caras de felicidade, de pessoas de todas as idades, pelo sabor de quem dependeu de mim para ser conservado até o consumo, colaborei para evitar uma terrível doença, a oteosporose que transforma ossos em esponja frágil, eu fui tampa de guaraná sabe aquela bebida feita com uma frutinha nativa da Amazônia que dá disposição e combina com lanches de qualquer espécie; sanduíches, pipocas, bolos e refeições de qualquer espécie desde o churrasco do sul até o vatapá, a feijoada e outras guloseimas trazidas pelos escravos africanos e as comidas genuinamente brasileiras de minha terra como por exemplo o pato no tucupi... Vejam como fomos úteis disse a garrafa... mas agora somos inúteis relutou o pote. Ouvi dizer que estamos colaborando para a destruição da vida na Terra e isto é terrível!
Ao invés de consolá-lo todos começaram a chorar até perceberem a aproximação de dois meninos do P Sul quando todos voltaram, imediatamente, para suas posições e lugares onde foram jogados com medo da descoberta do segredo de que se deslocavam e se comunicavam sem o auxílio de ventos água ou seres que os levassem.
Os meninos conversavam sobre algo que muito interessava ao pote, garrafas e tampas. Sabe aquela escola bonita que fica entre a 22 e 26? Sei, já participei de uma festa lá e tenho dois primos que estudam lá... eles adoram a escola e disseram que lá se aproveitam as garrafas, tampinhas, caixas, potes e um monte de coisas, fazem brinquedos, jogos, enfeites, um montão de coisas lindas e úteis. Ouvi dizer que estão recebendo, trocando por balas e pirulitos, certos tipos de garrafas, tampas e potes. Falando os meninos se afastaram e suas vozes se foram com eles.
Após o ocorrido o pote dava gargalhadas de alegria e todos estavam muito felizes. Bolaram uma estratégia: na calada da noite fugiriam para um local onde pudessem ser apanhados pelos garotos e levados até a escola para ressurgirem para um mundo de brincadeiras e sorrisos de crianças. Mas eu quero ficar bem bonito, será que fazem com perfeição, disse o pote. Seja como for precisamos sair daqui. A meia-noite subiram escondendo-se por entre as sombras uma quadra e avistaram um local com escritórios, lanchonete, pessoas e veículos. Era o terminal de ônibus do P Sul e o melhor lugar para serem encontrados.
Não deu outra, na manhã seguinte foram recolhidos e levados até a escola. caíram nas mãos de uma verdadeira “Fada” caprichosa, sensível e possuidora da maior noção de estética dali. A professora Eliete os transformou em maravilhosos bonecos que foram presenteados a sua turma. Todos da escola ficaram com inveja. Ouve até choro de outras crianças que também desejavam receber os bonecos. As crianças saíram pelas ruas a caminho de casa esnobando os presentes e causando inveja às crianças que os viam. Até os adultos desejavam receber um presente tão exclusivo e bonito. Certamente, pelo que esperamos são presentes que passarão de uma geração a outro conservando o brilho e beleza de sempre. Na calada da noite o mais belo dos bonecos se alegra e comenta: o melhor é que nos uniram e, se tal atitude contagiar muita gente ainda podemos ter ESPERANÇA de que a Terra será um planeta habitável por milhões de anos.
“ Sucata é um material que já cumpriu sua primeira missão
e constitui um desafio para adoção de uma segunda”

2 comentários:

h disse...
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Unknown disse...

Amei a matéria! Mas na verdade,tudo o que aconteceu:o destino diferente de cada reciclável; a transformaação de cada sucata em um lindo boneco; e a alegria de cada criança ao recebê-lo; se deve unicamente a uma pessoa maravilhosa, que ama a educação e que tanto me ensinou:
Rosa Siqueira
A você tia Rosa o meu muito obrigado!,

SER AMIGO É ACEITAR E COMPREENDER O OUTRO -

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