domingo, 28 de julho de 2024

A GRUTA MISTERIOSA – 28 DE JULHO, DIA DO AGRICULTOR

Papai arrendou parte de uma fazenda, ao lado de uma mata que ele derrubou para plantar arroz havia uma caverna (pois só havia uma entrada), que a gente chamava de Gruta da Pedrona que era um rochedo gigantesco, devia ter mais de 30m de altura. Do lado de fora, vindo de cima, como uma energia espiritual invasora, desciam umas minúsculas gotinhas de água, tão ínfimas, que nem se acumulavam no final, pois logo se dissipavam evaporando. Havia uma abertura, uma entrada para o interior da caverna. A forma como algumas pessoas imaginavam e descreviam o que poderia haver lá dentro, era tão aterrorizante, que o medo me fazia imaginar que poderia ser como uma entrada para o inferno. Eu queria muito entrar lá, mas todos me alertavam dos perigos que eu poderia me deparar: logo depois da entrada deve estar cheio de chupadores de sangue, gigantescos morcegos; dentro das grutas geralmente tem água então lá dentro deve se esconder outros Hematófagos: piolhos, pulgas, mosquitos e outros flebotomíneos e simulídeos. (Transmissores de patógenos, vetores naturais de alguns agentes etiológicos de doenças humanas e de animais). Além disso é um lugar ideal para cobras, caranguejos, lacraias e outros bichos peçonhentos. Como tem água e na frente era uma mata, as onças devem se esconder lá. As paredes devem ser mofadas cheia de coisas como musgos, líquens e fungos que podem abrigar micróbios como os vermes que você tanto detesta. Quem sabe o tamanho que tem?! Pode ser um labirinto e você pode se perder lá dentro e nunca mais sair. No entanto, eu sonhava com o dia em que entraria ali, como uma espécie de fascínio e de assombro, sonhava dormindo e acordada e fazia meus planos: vou levar uma lamparina (e se tiver pouco oxigénio ela pode apagar). Ah, então uma lanterna. Para conseguir voltar posso amarrar um cordão do lado de fora, em uma árvore e ir desenrolando enquanto entro. Na volta é só ir enrolando para encontrar a saída. Ademais quem tem medo de serpentes? Eu até gosto delas! A onça deve estar ali porque está de barriga cheia, deve ter caçado e está ali descansando. Porque vai me atacar?! Até que um dia, fui para lá cozinhar para os piões. Lembro-me de um tacho enorme onde era feito o arroz misturado com os legumes que ali mesmo eram colhidos: feijão verde, mandioca, abóbora.... Todo tanto de comida que eu fizesse eles comiam tudo, estavam afoitos de fome, cansados de capinar. Logo após o almoço eles faziam a sesta (a famosa “sesta” (ou soneca após o almoço), pode fazer bem à saúde e melhorar o rendimento no restante do dia). Cada um procurava uma sombrinha gostosa e descansava uns minutos. Enquanto isso eu saí de fininho e fui até a gruta. Estava tudo planejado, nada daria errado. Foi uma das aventuras das mais extraordinárias que eu já vivi. Assim que entrei na gruta local que ainda penetrava claridade, haviam lindas borboletas coloridas, algumas pousadas e outras como flores voando, certamente, recém-saídas da metamorfose, procuravam a saída; andei um pouco mais, e a escuridão era iluminado vagalumes com sua linda luz verde azulada. (Recebi em 2016 um artigo: https://agencia.fapesp.br/vagalumes-iluminam-cavernas-e-cupinzeiros-na-amazonia-para-atrair-presas/23496 “É a primeira vez que é relatada a ocorrência de larvas luminescentes de vagalumes no interior de cavernas no mundo”). Mais à frente, encontrei uma poça de água com pirilampos rondando-a, despontavam na escuridão e iluminavam o local. (O pirilampo tem a fonte de luz na retaguarda e pisca enquanto ele voa. O vagalume tem na cabeça, como olhos e jamais pisca, além do que, parece mais com um besouro). Pirilampos e vagalumes parecem estrelas lançando luz ou espargindo-a e piscando, são verdadeiros mágicos, alumiando a noite com seu brilhantismo fascinante. Mais à frente encontrei um grupo de macacos como guardiões daquele abismo. Eles me saudaram batendo palmas. Pulavam e gritavam. Uma excelente recepção dos que, certamente entraram ali em busca de abrigo e refúgio após a derrubada das árvores. Eu estava tão absorta com os animais que encontrei que nem havia olhado para as paredes. Quando resolvi dar uma olhada em 360o em volta, fiquei encantada, eu devia estar no firmamento, eram nuances de cores que iam desde o rosa, amarelo, azul e verde e a luz dos pirilampos refletiam nelas sobressaindo os matizes. As estalactites e estalagmites eram espetaculares. Formavam imagens em cada lugar que eu fixasse o olhar: vi algo ou imaginava algo como uma flor, imagem de Maria e do Anjo da Guarda. Fiquei extasiada e pensei que eu havia morrido e estava no céu. Foi o local mais lindo, mais maravilhoso, mais encantador que eu já visitei. No entanto, demorar mais, iria preocupar meu pai. Comecei a desenrolar a linha para encontrar a saída, apressada, para que é meu pai e os trabalhadores nem notassem a minha ausência. Nunca contei a ninguém essa história. Também, que iria acreditar?! Só agora 60 anos depois a recordei e resolvi contá-la. Nunca devemos desistir do que queremos fazer por mais dificuldades que digam que iremos encontrar. Sempre encontraremos formas de contornar os atropelos. Inexiste impossível.

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