quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

24 de janeiro: DIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL E DIA DOS APOSENTADOS

Lembro-me de uma ocorrência na minha infância, que me deixou preocupada com a velhice. Havia uma idosa, nem sei qual era a idade dela. Provavelmente, foi uma das primeiras que se aposentou porque era uma trabalhadora rural e “em 1963, João Goulart sancionou o Estatuto do Trabalhador Rural, sob a lei nº 4.124, que significava a chegada dos direitos trabalhistas ao campo e a criação da Previdência Social, sob a sigla Funrural (Fundo de assistência e previdência do trabalhador rural”). O que sei é que ela preferia ser chamada de tia do que de vó. Tinha uma leve deficiência auditiva e visual. Certo dia um neto dela, lhe ofereceu jiló (algo que como eu, ela apreciava). Por várias vezes ela, pensando que era um coquinho, dizia que sem dente era impossível, ele insistia que era jiló e ela continuava com a mesma resposta até que, ele impaciente disse a ela: - É jiló carcaça velha! Eu ficava horrorizada quando via os urubus nas ossadas reaproveitando o que restava. Como pode chamar de carcaça uma pessoa viva? Sua avó. Se pelo menos fosse em Portugal onde carcaça é um pão, coisa rara por aquelas bandas... Às pessoas sempre fazem planos para quando chegar a aposentadoria: aprender um novo idioma, encontrar algo que traga uma renda extra, dedicar-se a atividade de lazer, de distração; estudar, passar mais tempo com a família, fazer atividades manuais ou ginástica para o cérebro, praticar esportes, realizar trabalhos voluntários, viajar... Junto com a aposentadoria vem o envelhecer. Assim vivenciamos um tempo o que a gente imagina que sabe, que vai conseguir, mas quantos já nem conseguem mais. As coisas estão gravadas na mente, mas o corpo mudou, fica mais instável, com menos força o equilíbrio e quase tudo está se esvaindo: visão, audição, olfato, paladar e tato; o esquecimento passa a ser mais constante; mesmo com coragem, falta força. A respiração fica mais difícil, o coração irregular, a pele manchada e mais sensível. O desejo pela vida continua mas vai ficando cada vez mais difícil fazer o mesmo que fazia. A aparência modifica, muitas vezes a coluna arcada, juntas endurecidas, dentes amarelados, olhos embaçados. É tão difícil admitir tudo isso! Viver a velhice é bem diferente das noções vagas e falsas que temos na juventude. O que importa se ouve equívocos ou se a vida profissional terminou brilhantemente? A velhice chega independente de amar a vida. Parece que as pernas ficaram trôpegas, mais pesadas, ou será que o corpo é que está mais pesado? Enquanto o peso do corpo aumenta, a mente definha. Nada disso importa, enquanto restar vida nem que seja vida gemida, que se ouça constantes grilos, ainda é possível sonhar, realizar, ajudar, criar, inventar, trabalhar, sorrir e transformar tudo em otimismo agradecendo por ainda estar viva.

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