sábado, 9 de maio de 2020

MINHA MÃE

Se existe alguém que teve uma mãe maravilhosa, espetacular, humana, carismática, possuidora de uma enorme empatia sou eu. Minha mãe era a primogênita de nove irmãos e foi meio mãe de seus irmãos menores. Todos a chamavam com carinho de “Dinha” abreviatura de madrinha, certamente. Acredito que sua maior qualidade tenha sido a paciência, nunca soube que tenha se alterado por qualquer motivo. Foi a criatura mais elevada que conheci com capacidade extrema de manter-se tolerante. Todo ano no dia dedicado às mães presenciamos os agradecimentos de inúmeras formas: em casa, na escola, com um presente, um cartão, com um sorriso. Se há alguém no mundo merece agradecimento é minha mãe, porém meu agradecer desde 30 de janeiro de 1967 tem sido com saudade, com lágrimas silenciosas e com uma prece. O meu agradecimento é principalmente pelo exemplo de perdão e calma e pela confiança que em mim depositou quando me recomendou tudo fazer para que seus filhos pudessem ter o que ela nunca teve: estudar para melhor aplicação da inteligência e mais compreender o desconhecido. Minha mãe vivia para o outro seu desapego e sua “mão aberta” estendida aos necessitados foi o maior exemplo que tive. Sua partida para a eternidade tão cedo, certamente, muita coisa deixei de aprender. Além disso, muitas palavras devem ter passado despercebida, muita sabedoria sem ser observada. Hoje só tenho a agradecer a Deus pelo bem que ela fez, pelo perdão que espalhou, pela bondade que compartilhou, pela vida que doou, pelo amor que construiu e pela lembrança meiga e tranqüila que tudo isto me traz. Sua inteligência emocional aflorava! Era boa ouvinte e respeitosa, mas segura quando pensava diferente, confiante, no entanto, cabreira, curiosa, às vezes preferia ficar incógnita, destemida e corajosa, mas chorava, empática e comprometida, focada, as vezes dispersa, independente e generosa, justa e tolerante, meiga e forte, otimista, entretanto a vi sentir-se derrotada, paciente e possuidora de fereza, persistente, todavia cabeça dura, resiliente, porém frágil, extremamente ética e solidária, eras única! Ainda hoje, quando já se passou mais de 50 anos, ainda encontro pessoas que manifestam agradecimento pelo bem que realizou. Outro dia encontrei com uma senhora que me reconheceu e disse: “Sua mãe salvou a vida de meu irmão” com demonstração de muita alegria e reconhecimento. Quando se identificou me recordei claramente: na década de 60, na vila onde morávamos, era comum o que chamavam de “Mal de Sete Dias” que vitimava muitos bebês ao sétimo dia de nascido. Ali só havia um senhor que vendia alguns medicamentos mais comuns. Minha mãe viu uma senhora passar pela rua onde morávamos com um bebê e se dirigir a casa daquele senhor. Em poucos minutos voltava com um semblante de conformismo e tristeza. Ao notar o desânimo mamãe perguntou: “O que foi?” A senhora respondeu que o bebê estava morrendo de “Mal de Sete Dias”. Está sem conseguir mamar, nem abre a boca, está endurecendo o corpo e enrolando as mãos. Parece que está com febre. Mamãe pediu para vê-lo. Desembrulhou o bebê e pediu-me que fosse até a horta trouxesse uma folha de fumo, folhas de alecrim e esquentasse azeite de mamona. Limpou o umbigo com água oxigenada, massageou a barriga com azeite morno, cobriu com uma folha de fumo morna, deu-lhe um chazinho de alecrim com outros ingredientes naturais que desconheço o que eram e, em uma meia hora, podia perceber a melhora. “Ele vai viver!” Pode levar pra mamar. Hoje o que sei é que o tal “Mal de Sete Dias” nada mais é que “tétano neonatal” que é tratado com miorrelaxantes potentes e cuidado em UTIs. Para nós era normal aquela mulher simples, analfabeta, curar doenças com remédios caseiros, ouvir, aconselhar e ajudar quem a procurava. Tinha também um sexto sentido e se prevenia de ocorrências ruins ou se preparava para as boas. A mais comum era preparar o prato preferido de meu avô, o pai dela, que morava em uma fazenda a um dia de viagem em sua mula e ele realmente aparecia sem que ela tivesse sido avisada. A lembrança de minha mãe com sua simplicidade e sabedoria foi capaz de me fazer mais forte como mãos a me segurar e proteger. Sua confiança em Deus, sua coragem, foi meu exemplo de vida para enfrentar qualquer obstáculo. Quando dizia que praga nenhuma, mal olhado, inveja, peste, calamidade, seria capaz de atingir a quem se cuidasse fazendo bem a sua parte sem se dominar pelo medo, ainda ajuda-me a enfrentar os problemas da vida. OBRIGADA MÃE!

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