domingo, 11 de março de 2018
ENGANANDO-SE DE FUSCA
Com vinte e seis ano, em 1977, eu lecionava à noite em um local distante cerca de trinta quilômetros de minha residência Como nunca dirigi vinha para casa todos os dias de carona com minha tia que estudava à noite e morava em uma chácara Ela ia buscar-me mais ou menos às vinte e três horas e trinta minutos Até chegarmos em casa já passava da meia noite.
Certo dia resolvemos passar no hospital para uma visita a uma irmã dela, minha tia, que se encontrava internada no Pronto Socorro. Entramos conversamos e uma hora da madrugada saímos.
Minha tia possuía um Fusca azul escuro que foi estacionado nas proximidades da entrada do hospital Cansadas e com sono estávamos ansiosas para chegarmos em casa e descansar. A chave ficou emperrada e quem disse que conseguimos abrir o Fusca! Percebendo nossa dificuldade várias “almas boas” vieram nos ajudar: veio um porteiro do hospital, um motorista de táxi, um policial e um senhor que procurava localizar seu carro. Todos tentavam ou davam uma sugestão do que fazer e nada do fusca abrir. A chave que com muito custo fora retirada passava de “mão-em-mão” e cada um desistia depois de muito tentar. Quando já estávamos procurando um número de um chaveiro “vinte e quatro horas” alguém gritou: consegui consegui!
Até que enfim. Entramos rapidamente no carro aliviadas agradecendo a todos quando exclamei: Tia onde estão as provas que apliquei hoje? Estavam aqui no banco! Minha tia que tentava ligar o carro soltou um grito: Este carro não é o meu!
Saímos correndo e todos que nos ajudaram espantados também se afastaram rapidamente enquanto procurávamos pelo nosso fusca que foi localizado umas três vagas depois. Minha tia o ligou o mais rápido que pôde e saímos “a toda” olhando para todos os lados para verificar se o dono do carro arrombado estava por perto.
Rindo muito fomos comentando as caras dos ajudantes e o que deviam estar pensando de nós. Imagine se o dono chega?! Quem iria acreditar que foi por falta de atenção? Poderíamos até ser presas O que o cansaço é capaz de provocar!
Em minha casa todos estavam preocupados com a demora e enquanto eu ainda contava o ocorrido minha tia bate na porta e pergunta: minha bolsa ficou com você? Sacudi a cabeça em negação e corremos para o carro para voltarmos ao hospital e pegar a bolsa que fora colocado no banco de trás do Fusca que arrombamos,
Minha tia usava uma calça branca e quando saiu do carro com a pressa de voltar ao perceber que estava sem a bolsa deu meia volta e caiu na enxurrada estava toda “enlameada”.
O Fusca quase fundiu o motor de tanto que fora forçado a correr ao máximo! Graças a Deus o outro Fusca, o ”clone” ainda estava no estacionamento. Enquanto eu atenta verificava se vinha alguém minha tia procurava a bolsa no carro alheio. Pegou a bolsa e saímos correndo as gargalhadas. Algumas das pessoas que haviam nos ajudado nos olhavam incrédulas e assustadas.
Bem na noite seguinte ao contar o ocorrido em minha sala de aula foi impossível falar em outra coisa. As brincadeiras da turma duraram mais de uma semana e tive que usar o ocorrido para as atividades pedagógicas: fizeram redações, história em quadrinhos e até um livro construído coletivamente mudando o final, é claro. Fomos presas havia várias testemunhas contra nós, fizeram um júri simulado, prenderam cúmplices. Bem até o final do ano letivo o assunto sempre voltava à tona e acredito que todos nunca esqueceram e deve estar contando o ocorrido até hoje aos seus netos.
Obs.: Esta história é verdadeira e foi encaminhada para a Rede Globo antes do episódio parecido exibido na série Sob Nova Direção, protagonizada por Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães.
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