quarta-feira, 8 de agosto de 2018

PAPAI, MINHA GRATIDÃO


 


Todas as pessoas, sempre têm a quem agradecer. Pai nenhum pode despedir-se da vida sem ouvir um especial “muito obrigado” daqueles para os quais deu a vida, o tempo, a paciência e, acima de tudo o AMOR incondicional... Possivelmente, o meu pai, assassinado cruelmente tenha partido sem ouvir tal frase. Desculpe papai... Segundo Domingo de agosto é o dia do maior e do mais sincero de todos os agradecimentos. Em casa, na escola, com um presente, por carta, com um sorriso, com uma lágrima, com uma saudade, no silêncio, com uma prece... Muito obrigado papai pelo tempo que deixei passar sem nunca lhe dizer muito obrigado. Obrigado pela sua presença em minha vida, pelas lições de mestre, pela prudência, pela educação, pelo perdão, pela calma, pelo sim pelo não, pelo exemplo de honestidade... Obrigado por ser meu herói, pela confiança que em mim sempre depositou. Nos meus altos e baixos sua presença é como uma linha reta. Pai de mãos fortes que me seguram e protegem. Obrigado por eu ter reconhecido na sua pessoa, na minha vida, na minha casa, alguém semelhante com o Deus que você me ensinou... E, aqueles, cujos pais já se foram para a eternidade e que tudo dariam para deles receberem um abraço, uma palavra, um aperto de mão... a nossa prece, a nossa oração e o agradecimento eterno pelo bem que fizeram, pela alegria que compartilharam, pela vida que doaram, pelo amor que construíram... Nesta oportunidade quero descrever como era meu Querubim de Botina – meu pai, Príncipe do conhecimento, simboliza para mim o reino das idéias com a missão especial de transmitir a sabedoria. Era capaz de ficar um tempão, matutando, planejando um invento. Do seu jeito bronco e machão era um homem de sete instrumentos que usava de suas capacidades para ajudar e proteger as pessoas. Trabalhava incessantemente para que a família e muitos outros parentes que recebia em casa tivesse uma vida melhor. No inverno era construtor, na primavera e verão cuidava das plantações e no outono colhia o que plantava. Como construtor era capaz de construir desde grandes e pequenas casas até prédios como escolas, igrejas com torres e pontes, desde a fundação, construção, acabamento e até proteção como pára-raios. Sessenta anos depois, o que construiu permanece firme e seguro trabalhando nelas era o Engenheiro, o Calculista, o Responsável Técnico, o Mestre de Obras, o Pedreiro, o Serralheiro, o Carpinteiro, o Pintor, o Azulejista, o Bombeiro Hidráulico, o Eletricista e até o Marceneiro. Na agricultura era um sábio, plantava arroz, feijão, mandioca, milho, cana-de-açúcar, soja, gergelim, amendoim e frutas. Orientava em que lua plantar, com o que adubar, o melhor momento para a colheita e até como utilizar adequadamente as folhas de fumo para fazer tabaco. Sabia como manusear o café que era tido como dos mais saborosos. Apontava o ponto correto do melaço de cana para deixá-lo como melado ou no ponto da rapadura. Elaborava muitas das ferramentas usadas e confeccionava coxos, gamelas e monjolos. Além disso, era Barbeiro e trabalhava com vidraçaria. O que foge de meu entendimento é o que fazia como juiz de paz com concessão de poderes pelo Juiz da Comarca. Tendo freqüentado a escola por apenas um mês, tinha poder de polícia, podia realizar audiência para resolver pequenas causas, como intrigas de vizinhos, questões familiares, como brigas de casais e reconhecimento de paternidade, podia prender e encaminhar infratores e realizar casamentos. Eu mesma ia até a construção ou a roça onde trabalhava avisá-lo que os noivos, quase sempre a cavalo, haviam chegado para o casamento, pois o tempo da viagem era incerto. Era um líder comunitário que recebia as pessoas para obtenção do Título de Eleitor, com preenchimento dos formulários, fotografia e demais providências. Nas campanhas de saúde para verificação de doenças como malária retirava o sangue, encaminhava ao laboratório, distribuía e orientava o uso da medicação. Além disso, receitava homeopatia para as doenças consideradas mais simples e sem muito risco de morte. Consultava um grande livro antigo para diagnóstico e tratamento. As visitas tanto dos amigos, fazendeiros e qualquer trabalhador além das importantes, como padres, prefeitos e outros autoridades, podiam contar com hospedagem e alimentação na residência e por conta dele. Eram verdadeiros banquetes oferecidos aos visitantes. Gostava muito de festas e se divertia a valer nas festas juninas, nas folias e festas religiosas. Todos os domingos dirigia a Celebração da Palavra, lendo e comentando a Bíblia, rezando ou cantando novenas, ladainhas e terços, presidia a organização do Congregados Marianos e era o leiloeiro das doações em prol da construção da Igreja. Acredito que, pelo que foi em vida, pode morrer perdoando o assassino e dizendo até o momento do último suspiro: “Tudo bem Graças a Deus!” Pai, ao visitar a Vila onde vivi dos cinco aos quinze anos, ao olhar para uma Igreja preservada, inteira, sem rachaduras ou algo que aos olhos de leigos tenha sido mal feito, com torre, forro, vitrais e até pára-raios, iniciada em 1958, planejada e construída por você, um semi-analfabeto, passei a creditar mais ainda que tudo é possível. Sem “Cálculo Estrutural”, nenhum órgão aprovou a planta. Porque deu certo? Certamente, nada foi realizado aleatoriamente, você lia, perguntava, pesquisava, observava. Sem dúvida, foi um respeitado senhor, era líder político e religioso que vestia seus trajes grosseiros feitos em casa por sua esposa, plantava, capinava e colhia, era Juiz Distrital além de ser um criativo inventor – me lembro que com sucatas construiu sua cadeira de barbeiro que girava, subia e descia, possuía apoio para a cabeça – trabalhava extremamente motivado, gostava do que fazia, era capaz de aceitar desafios! E acreditem, só frequentou a escola durante um mês. Era meu pai, GERALDO.

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