terça-feira, 22 de abril de 2025

22/04: Dia da Terra

CARTA ENCÍCLICA LAUDATO SI, DO PAPA FRANCISCO SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM São Francisco de Assis, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que ela nos fornece. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. ...vislumbra-se sintomas de doença no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos. O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, a humanidade possui a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. A mudança é algo desejável, mas torna-se preocupante quando se transforma em deterioração do mundo e da qualidade de vida de grande parte da humanidade. Façamos uma descrição das questões que hoje nos causam inquietação com o objetivo de conscientizar e reconhecer a contribuição que cada um pode dar. Existem formas de poluição que afetam diariamente as pessoas. A exposição aos poluentes atmosféricos produz uma vasta gama de efeitos sobre a saúde e provocam milhões de mortes prematuras. Por exemplo, a inalação de elevadas quantidades de fumaça produzida pelos combustíveis utilizados para cozinhar, causada pelo transporte, pela indústria, por substâncias que acidificam o solo e a água, pelos fertilizantes, inseticidas, pesticidas, fungicidas, e agrotóxicos em geral. Na realidade a tecnologia, às vezes resolve um problema criando outros. Também a poluição produzida pelos resíduos muitos não biodegradáveis: resíduos domésticos e comerciais, detritos de demolições, resíduos clínicos, eletrônicos e industriais, resíduos tóxicos e radioativos. A terra, nossa casa, transforma-se cada vez mais num imenso depósito de lixo. Muitas vezes só se adotam medidas quando já se produziram efeitos irreversíveis na saúde das pessoas. Tais problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, “do jogar fora” que afeta tanto os seres humanos excluídos como as coisas que se convertem rapidamente em lixo. Ainda carecemos de adotar um modelo de produção que assegure recursos para todos e para as gerações futuras, moderando o consumo, maximizando a eficiência no seu aproveitamento, reutilizando e reciclando-os. A cultura do descarte acaba por danificar o planeta inteiro. Há consenso científico consistente do aquecimento do sistema climático. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam. Estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa (dióxido de carbono, metano, óxido de azoto, e outros) emitidos sobretudo por causa da atividade humana. O aquecimento cria um ciclo vicioso que agrava a disponibilidade de recursos essenciais como a água potável, a energia e a produção agrícola e provocará a extinção de parte da biodiversidade do planeta com graves consequências para todos nós. A falta de reações diante destes dramas é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes. Muitos sintomas indicam que tais efeitos poderão ser cada vez piores. O hábito de desperdiçar e jogar fora atinge níveis que ultrapassaram certos limites máximos de exploração do planeta. O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a deterioração humana e social. Sabemos que se desperdiça aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e «a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre». Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum e manipular a informação para não ver afetados os seus projetos. «Não obstante haver acordos internacionais que proíbem a guerra química, bacteriológica e biológica, subsiste o facto de continuarem nos laboratórios as pesquisas para o desenvolvimento de novas armas ofensivas, capazes de alterar os equilíbrios naturais» Basta, porém, olhar a realidade com sinceridade, para ver que há uma grande deterioração da nossa casa comum. Situações como estas provocam os gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo. A esperança convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar de direção, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas. Se tivermos presente a complexidade da crise ecológica e as suas múltiplas causas, deveremos reconhecer que as soluções não podem vir duma única maneira de interpretar e transformar a realidade. É necessário recorrer também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade se quisermos, de verdade, construir uma ecologia que nos permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e nenhuma forma de sabedoria pode ser transcurada, nem sequer a sabedoria religiosa com a sua linguagem própria. Precisamos aprender a ter uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza, somos dotados de inteligências, precisamos descobrir como respeitar as leis da natureza e os delicados equilíbrios entre os seres deste mundo. Ao mesmo tempo que podemos fazer uso responsável das coisas, somos chamados a reconhecer que os outros seres vivos têm um valor próprio. Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. Se reconhecermos o valor e a fragilidade da natureza e, ao mesmo tempo, as nossas capacidades, isto permite-nos acabar com o mito moderno do progresso material ilimitado. Quando se propõe uma visão da natureza unicamente como objeto de lucro e interesse, isso comporta graves consequências também para a sociedade. O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Ao conscientizar-se do dever de cuidar da natureza, também lembrar de «sobretudo proteger o homem da destruição de si mesmo. O ser humano deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas pois toda a vida está em perigo. A humanidade parece estar persistente na incapacidade de viver à altura das exigências da justiça e da paz. Porém, a convicção atual é de que tudo está inter-relacionado e o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros. Cada um de nós tem em si uma identidade pessoal, capaz de entrar em diálogo com os outros. A capacidade de reflexão, o raciocínio, a criatividade, a interpretação, a elaboração artística e outras capacidades originais manifestam uma singularidade que transcende o âmbito físico e biológico. Não podemos deixar de apreciar e agradecer os progressos alcançados especialmente na medicina, engenharia e comunicações. Como não havemos de reconhecer todos os esforços de tantos cientistas e técnicos que elaboraram alternativas para um desenvolvimento sustentável? É possível voltar a ampliar o olhar, e a liberdade humana é capaz de limitar a técnica, orientá-la e colocá-la ao serviço doutro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social, mais integral. Sempre haverá esperança!

Nenhum comentário:

https://youtu.be/fkvoT-YSQTA