IMPOSSÍVEL

Certo dia uma distinta senhora me procurou quando eu trabalhava no Ministério da Educação humildemente sentada em minha frente disse ter vindo me pedir um grande favor, queria uma certidão de tempo de serviço de um órgão extinto. Eu não sabia quem era nem de onde viera. No entanto, o que ela me pedia era algo bem difícil e eu disse: O difícil se resolve logo, o impossível pode demorar um pouco. Esclareci que os documentos estavam espalhados em vários locais porque depois da união de três Ministérios que foram novamente separados os documentos se encontravam em vários locais, especificamente as pastas do órgão em que trabalhou estavam amontoadas no subsolo. Disse a ela: vou até lá procurar, enquanto isso, procure tudo que tiver sobre este seu tempo de serviço, veja se tem algum documento: carteira de trabalho, memorando, portaria normativa, bilhetes e me traga podem ajudar. Ela agradeceu, saiu muito feliz e eu desci para o subsolo para procurar a pasta. Qual foi a minha surpresa porque o nome dela era iniciada com a letra a e eu consegui localizar. No dia seguinte quando ela apareceu, eu já estava com certidão pronta e a entreguei. Tal atitude para mim fora do normal, sempre resolvia problemas dessa natureza. Logo depois eu me aposentei. Poucos dias depois recebi um telefonema dela em casa. Ela disse que precisava novamente de minha ajuda, estou assumindo a Coordenação Geral de Recursos Humanos do Ministério das Comunicações e quero que assuma a Coordenação de Administração de Pessoal. Minha resposta foi imediata: Meu plano agora é investir na construção de uma escola. Ela disse que jamais aceitaria minha negativa como resposta e solicitou que eu fosse até o Ministério. Ao chegar, ela me levou até o corredor com milhares de processos empilhados até o teto em ambas as paredes. E para derrubar isso que eu preciso de você! Tudo da área de Administração de Pessoal dos 26 Estados está centralizado aqui. Além disso, são 25.000 pensionistas e 28.000 aposentados como a maioria dos benefícios defasados. Já disse, vou montar a minha escola. Ela retrucou: você é uma pessoa que resolve impossível e eu preciso de você. Só aceito um sim. Aquela certidão que você providenciou foi solicitada primeiramente ao Ministro e ele disse que era impossível. Falei com o Secretário de Administração e ele disse que era impossível. Procurei o Coordenador-Geral de Recursos Humanos e ele me disse para falar com você. Eu retruquei: Eu nem sabia disso!... Aquele desafio e tamanha confiança era impossível me esquivar. Resolvi aceitar e perguntei: quantas pessoas vão trabalhar comigo? Cinco. Eu nem sabia o que dizer... A competência é desde concurso público até a pensão e auxílio-funeral? Preciso de mais de 100, mas conte comigo. Lá fui eu assumir algo que parecia mesmo impossível... Os três anos que passei ali foi uma sucessão de impossíveis resolvidos. Este é um capítulo a parte e dá mesmo para escrever um livro. Impossível mesmo foi atender ao pedido meu filho Gabriel: Eu quero um Rambo desse! Vocês devem estar pensando que parece fácil. O Rambo que ele queria e tanto insistiu para ter, também me encantava. Ele tinha 2 anos e morávamos próximo a uma pista que tem três faixas de rodagem em cada sentido. Ali era realizado o desfile em comemoração ao aniversário da Independência do Brasil 7 de Setembro. Era o final da pista e o início do desfile. Coloquei a princesinha Natalia, minha filha com sete meses, no bebê carona e fui até lá com os dois para ver o desfile. Ele forçou a barra para se soltar da minha mão e como o local era tranquilo soltei. Ele correu para frente de um grupo de militares que se preparavam para desfilar. Fui buscá-lo e ele mostrando com o dedinho, olhando para cima dizia e repetia insistentemente: mãe, eu quero um Rambo desse! Todos caíram na risada e eu também. Foi difícil tirar ele de lá e ele repetiu muitas vezes: eu quero um Rambo desse! Os policiais riram mais ainda quando eu disse: eu também quero Gabriel, mas é impossível, além de tudo, olha o tamanho dele, deve dar muita despesa.