PASSOS PARA A ELABORAÇÃO
DE UM PLANO:
Tudo o que vamos fazer exige um pensar antes. Este é um
exercício de racionalidade, associado à nossa intuição e aos nossos
sentimentos. Pensar é acionar todas as vozes que falam dentro de nós, como
herança de muitos conhecimentos que as pessoas foram nos repassando e que fomos
guardando na memória, ao longo da vida. Esse patrimônio de conhecimentos que
compõe a visão de mundo de cada um chama-se repertório. Quando vamos planejar,
acionamos todos esses conhecimentos, num processo tão naturalizado que, muitas
vezes, nem nos damos conta. Se uma pessoa guarda, na sua consciência individual,
a riqueza dessas muitas vozes, desses múltiplos conhecimentos, imagine quando
um grupo de pessoas se reúne para planejar coletivamente. O planejamento se
torna um espaço de troca de saberes, aprendizados diversos e de surgimento de
novas ideias, na eterna busca de transformar e renovar o mundo. Os repertórios
individuais voltam a circular no social, produzindo saberes.
O planejamento evita que façamos as coisas aleatoriamente.
Fazer por fazer, sem saber por que se está fazendo, é irracional e provoca
desperdício de tempo, de recursos e, o pior, provoca o desânimo.
Com um plano em mãos, sabemos onde queremos chegar e que
resultados pretendemos obter com o trabalho. Planejar é calcular a qualidade e
a quantidade do que se pretende alcançar com o esforço empreendido pelo grupo.
Muitos grupos passam a vida inteira funcionando, sem saber para que. Tudo
termina num grande desânimo. Outros crescem, prosperam e sabem que estão
obtendo resultados, porque já os previam. Planejar é antever. Somente o ser humano
tem essa capacidade de criar imagem ou fazer ideia daquilo que ainda vai se
concretizar. Quando isso é escrito, visualizado, transformado em plano, as
chances de acerto aumentam.
O planejamento é o processo de trabalho, o esforço coletivo e
participativo de um grupo, para montar um plano. O plano é o resultado do
planejamento, um instrumento de trabalho: é o mapa que traça os caminhos que
devemos percorrer, em cada etapa das nossas ações, para concretizarmos aquilo
que temos como imagem, como ideia. Por isso, planejar é trabalhar com a
imaginação, com as reflexões. Assim, devemos sempre partir de uma tempestade de
ideias, num jeito de trabalhar participativo onde todos possam falar, sugerir,
mesmo que algumas ideias pareçam absurdas. Muitas vezes, o que parece absurdo é
o novo que está surgindo. É preciso estar atentos e abertos às coisas novas.
Quando nos fechamos, corremos o risco de ficar apegados a velhas opiniões, já
superadas, achando que elas são verdades eternas. Dessa forma, tudo que aparece
de novo é taxado logo de estranho e absurdo. Enganam-se os que pensam assim. A
criatividade é o segredo de um bom planejamento. Só se planeja bem quando há um
bom exercício de criatividade. Criar é inventar coisas novas e surpreendentes;
é tentar superar o que já estamos habituados a fazer. O hábito de fazer sempre
as mesmas coisas pode nos tornar mecânicos, repetitivos, caducos. Isso não
combina com qualquer atividade, especialmente as da área de comunicação
que deve ser dinâmico que sempre exige exercícios diários de criatividade.
O planejamento exige alguns passos. Há determinadas perguntas
que, quando respondidas, é o caminho para a montagem do plano. Planejamento é o
processo no qual respondemos criativamente a estas perguntas. O conjunto das
respostas que damos às perguntas a seguir, (como exemplo um grupo que
elaborando um projeto social) é o plano. Eis as perguntas básicas:
O que fazer? Para quê?
Como fazer? Quando Onde? Quem? Que fontes?
Nome/ação; Objetivo Geral
– Específico; Metodologia – Interna – Externa; Tempo – Duração; Datas; Espaço;
Local; Abrangência.
Pessoal; Recursos; Locais;
Extras.
Obs.: Acrescente-se mais
uma coluna para PÚBLICO ALVO, ou pessoas a quem queremos chegar.
1. O que vamos fazer?
Nesta fase, os participantes do planejamento vão sugerir e
definir o que se vai fazer, dando nome às atividades, uma por uma. Pode-se
fazer isso através da divisão de pequenos grupos. Cada grupo levanta o máximo
de ideias, de sugestões de atividades. Em seguida, cada grupo apresenta as
suas. Todas são válidas e merece serem discutidas. Este é o momento da chuva de
ideias, do debate.
Depois de discutidas, o grupo vai selecionando aquelas que
realmente têm a ver. Algumas vezes, uma ideia se junta a outra (s), gerando uma
terceira, complementando-se, enriquecendo-se. Nesta fase é preciso muita
abertura e entrosamento do grupo. Querer impor e não abrir mão da sua ideia, em
função do grupo, só faz dificultar o planejamento. É claro que cada um vai
expor o seu ponto de vista, em relação à sua ideia e explicar porque a colocou
ali. Depende da sua capacidade de argumentar, de convencer. Nenhuma atividade grupal
combina com ditadura nem com autoritarismo. Ela é democrática por natureza, é
caminho para uma nova sociedade.
Para quê?
Dado o primeiro passo, é preciso voltar a cada uma das ideias
eleitas, ou seja, a cada uma das atividades, para saber o que se quer com ela.
No momento em que cada um explicou o sentido da sua ideia, argumentando a
partir do seu ponto de vista, já se começa a entrar nesta parte. Mas, é preciso
definir melhor. Este é o momento de elaborar objetivos claros, de explicitar os
resultados que o grupo quer alcançar com cada atividade a ser realizada. Às
vezes, para uma atividade surge mais de um objetivo. O importante é definir,
com clareza, aonde se quer chegar. Os objetivos devem ser curtos, simples e
claros. O objetivo pode ser geral (mais abrangente e a longo prazo) ou
específicos (mais particular e a médio e curto prazos).
2. Como vamos fazer?
Não basta saber o que se
quer fazer e os resultados que se pretendem obter. Agora, o grupo vai definir
como é que o trabalho vai ser feito:
· Jeito como o próprio
grupo vai se organizar e trabalhar, internamente;
· Forma de trabalhar
junto ao público: como motivar a participação de todos? Como motivar a
comunidade?
· Junto a quem e como o
grupo vai conseguir apoios e parcerias, somando forças.
Nesta fase do planejamento, os participantes pensam a sua metodologia de
trabalho. Tudo deve ficar suficientemente explicado e claro, até como o
trabalho vai ser avaliado durante e depois da realização das atividades.
3. Quando vamos fazer?
Este é o momento de prever a duração de cada atividade; de
prever o tempo que cada atividade vai gastar: uma hora? Um dia? Duas semanas?
Três meses? Dois anos? Depende do que for ser feito e da realidade do grupo.
Esta também é a ocasião de marcar as datas, nas quais as atividades vão
acontecer. Isto se chama cronograma.
4. Onde vamos fazer?
O grupo define o espaço geográfico de seu trabalho. No plano,
é importante que o local da ação seja identificado. Os participantes do
planejamento identificam o raio de alcance geográfico do trabalho: quantas
comunidades queremos abranger? Isso se chama delimitação da área de abrangência
do plano. Neste ponto, é importante definir os locais de realização dos eventos:
escolas, ruas, rádio, centro comunitários, igrejas, sindicatos e outros.
5. Quem vai fazer?
Não basta ter tudo definido. O plano, por si só, não teria
vida, sem as pessoas que vão colocá-lo em prática. Cada pessoa do grupo de
planejamento vai assumir responsabilidades, de acordo com suas habilidades,
seus dons. Assim, quem leva jeito para trabalhar com pessoas irá atender.
Outros gostam mais de criar, de escrever textos para serem falados: estes
entram na produção dos trabalhos. Alguns gostam de trabalhar com efeitos
sonoros, de criar obras de arte e assim por diante.
O plano deve conter os nomes das pessoas responsáveis por cada
coisa. Mas só faz sentido se cada um assumir livremente as atividades. Impor
tarefas aos outros não gera compromisso, mas resistência. Quando as pessoas
decidem vestir a camisa, sentem-se responsáveis e zelam pelo compromisso que
assumiram. Nunca se deve assumir a responsabilidade que é de outro. Se ele
falha, isso deve ser conversado em reunião de avaliação que, aliás, sempre deve
acontecer.
6. Que fontes vamos
buscar? As ações precisam de recursos para sobreviver. O grupo deve usar de
muita criatividade, para manter funcionando, deve buscar muitas outras fontes,
aproveitando as oportunidades de parcerias com famílias, escolas, sindicatos,
igrejas, associações comunitárias e outras.
As promoções de eventos em épocas festivas também podem
ser fonte de renda: quermesses nas festas, festas juninas, sorteios, bingos. Há
muitas fontes. É preciso identificá-las e tomar iniciativas.
Texto adaptado de: Francisco
Morais Natal-RN, nov./2001
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