domingo, 23 de agosto de 2020

ÁRVORE GENEALÓGICA

 

Há uma provável origem italiana por parte da minha avó paterna. A família do meu pai é do Ceará de uma área bem seca e com pouca comida. Conta-se que o casamento dos meus avôs paternos aconteceu “às escuras” sem se conhecerem. Ela iria casar-se com outro homem que parecia ser muito rico, mas a família não concordou. Ela, como sempre, os considerou e queria vê-los felizes acabou casando com o meu avô que morava na roça e era dez anos mais novo que ela. Ela engravidou do primeiro filho que perdeu quando foi trabalhar na roça, levantou um balaio de milho e foi atravessar um passador então deslocou a placenta perdendo o filho. Eles adotaram uma menina e tiveram o segundo filho, em nove de junho de 1943, que foi meu pai que a acompanhou e cuidou dela durante toda a vida, nada curta, morrendo aos noventa e nove anos enquanto eu tinha apenas nove.

Era uma vez uma indiazinha

 

Os índios viviam bem com a natureza, retiravam dela tudo o que necessitavam até a chegada dos brancos que além de invadirem suas terras maltratavam a eles. Os fazendeiros mineiros espantavam a tiros os índios que iam buscar comida nas redondezas da fazenda, como era costume antes dos brancos virem para o Brasil. Numa dessas tentativas de pegar comida uma indiazinha que devia ter seus dois anos de idade ficou para trás, se escondeu numa casca de árvore. O fazendeiro ao encontrá-la, recolheu-a. A menina relutou-se tanto que o homem chegou à casa todo ensangüentado de mordidas e arranhões da pequena índia. Essa indiazinha deve ter sido batizada com nome português, pois minha avó materna tinha o sobrenome Pereira de origem europeu. A índia cresceu e herdou a fazenda, mas não dava nada a ninguém e nem costumava receber ajuda. Minha mãe costuma repetir uma frase que ela dizia com uma entonação indígena: “Se quiser me dá me dão, se não quiser me dá não me dão”. Ela teve seus filhos só, conta-se que enquanto trabalhava e entrava em trabalho de parto, tinha os filhos de cócoras onde estivesse, indo em seguida ao rio banhá-los. Está índia era avó da vó da minha mãe minha antepassada mais antiga que tenho conhecimento.

Além de europeus e índios Carajás, na minha família há origem escravas, negras fugidas, tias da minha avó. Já meu avô deve ter origem espanhola ou portuguesa, pois seus olhos eram azuis (como os do meu pai e da família dele) o sobrenome e bem espanhol que significa “se quiser” (Siqueira) ou também pode ser derivado de sequeiro “lugar seco”, origem portuguesa. Apesar do meu avô só ter ido um mês a escola era o líder do local e resolvia diversos tipos de problemas comunitários. Inventava várias coisas escrevia e fazia todo tipo de cálculo.

Minha mãe nasceu na Colônia Agrícola de Ceres em 1952. Aprendeu a ler em uma semana motivada pela vontade intensa de estudar, foi a primeira criança a se formar na quarta série de sua cidade, já na escola lecionava nas turmas anteriores a dela e foi nomeada professora aos treze anos. Minha avó materna morreu cedo, aos 39 anos de idade e já antes de morrer, tivera um aviso do ano da sua morte, preparara minha mãe a qual ficou responsável pelos irmãos mais novos. Veio para Brasília trazendo consigo a coragem e crianças que precisavam de alimento e principalmente estudo. Minhas tias tinham que usar o mesmo uniforme quando uma chegava, a tia Marina, lava-o para usá-lo no período vespertino. Minha mãe, Rosa, passou no vestibular, trabalhava todo tempo que podia como costureira e às vezes quando não agüentava era preciso dormir durante o domingo inteiro, pois não tinha tempo de descanso. Já formada passou em vários concursos e constituiu família e é ai que começa minha história.  

 

Um comentário:

Unknown disse...

A emocionante jornada da vida.

SER AMIGO É ACEITAR E COMPREENDER O OUTRO -

17-09 – DIA DA COMPREENSÃO MUNDIAL Qual será o segredo para uma convivência, um relacionamento feliz, bem-sucedido e duradouro? Sem dúvida ...