Há uma provável origem italiana por parte da minha avó paterna. A família do meu pai é do Ceará de uma área bem seca e com pouca comida. Conta-se que o casamento dos meus avôs paternos aconteceu “às escuras” sem se conhecerem. Ela iria casar-se com outro homem que parecia ser muito rico, mas a família não concordou. Ela, como sempre, os considerou e queria vê-los felizes acabou casando com o meu avô que morava na roça e era dez anos mais novo que ela. Ela engravidou do primeiro filho que perdeu quando foi trabalhar na roça, levantou um balaio de milho e foi atravessar um passador então deslocou a placenta perdendo o filho. Eles adotaram uma menina e tiveram o segundo filho, em nove de junho de 1943, que foi meu pai que a acompanhou e cuidou dela durante toda a vida, nada curta, morrendo aos noventa e nove anos enquanto eu tinha apenas nove.
Era uma vez uma
indiazinha
Os índios
viviam bem com a natureza, retiravam dela tudo o que necessitavam até a chegada
dos brancos que além de invadirem suas terras maltratavam a eles. Os
fazendeiros mineiros espantavam a tiros os índios que iam buscar comida nas
redondezas da fazenda, como era costume antes dos brancos virem para o Brasil.
Numa dessas tentativas de pegar comida uma indiazinha que devia ter seus dois
anos de idade ficou para trás, se escondeu numa casca de árvore. O fazendeiro
ao encontrá-la, recolheu-a. A menina relutou-se tanto que o homem chegou à casa
todo ensangüentado de mordidas e arranhões da pequena índia. Essa indiazinha
deve ter sido batizada com nome português, pois minha avó materna tinha o
sobrenome Pereira de origem europeu. A índia cresceu e herdou a fazenda, mas
não dava nada a ninguém e nem costumava receber ajuda. Minha mãe costuma
repetir uma frase que ela dizia com uma entonação indígena: “Se quiser me dá me
dão, se não quiser me dá não me dão”. Ela teve seus filhos só, conta-se que
enquanto trabalhava e entrava em trabalho de parto, tinha os filhos de cócoras
onde estivesse, indo em seguida ao rio banhá-los. Está índia era avó da vó da
minha mãe minha antepassada mais antiga que tenho conhecimento.
Além de
europeus e índios Carajás, na minha família há origem escravas, negras fugidas,
tias da minha avó. Já meu avô deve ter origem espanhola ou portuguesa, pois
seus olhos eram azuis (como os do meu pai e da família dele) o sobrenome e bem
espanhol que significa “se quiser” (Siqueira) ou também pode ser derivado de
sequeiro “lugar seco”, origem portuguesa. Apesar do meu avô só ter ido um mês a
escola era o líder do local e resolvia diversos tipos de problemas
comunitários. Inventava várias coisas escrevia e fazia todo tipo de cálculo.
Minha mãe
nasceu na Colônia Agrícola de Ceres em 1952. Aprendeu a ler em
uma semana motivada pela vontade intensa de estudar, foi a primeira criança a
se formar na quarta série de sua cidade, já na escola lecionava nas turmas anteriores
a dela e foi nomeada professora aos treze anos. Minha avó materna morreu cedo,
aos 39 anos de idade e já antes de morrer, tivera um aviso do ano da sua morte,
preparara minha mãe a qual ficou responsável pelos irmãos mais novos. Veio para
Brasília trazendo consigo a coragem e crianças que precisavam de alimento e principalmente
estudo. Minhas tias tinham que usar o mesmo uniforme quando uma chegava, a tia Marina,
lava-o para usá-lo no período vespertino. Minha mãe, Rosa, passou no
vestibular, trabalhava todo tempo que podia como costureira e às vezes quando
não agüentava era preciso dormir durante o domingo inteiro, pois não tinha
tempo de descanso. Já formada passou em vários concursos e constituiu família e
é ai que começa minha história.
Um comentário:
A emocionante jornada da vida.
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