segunda-feira, 10 de maio de 2021

AFETIVIDADE DO EDUCADOR PARA COM O EDUCANDO

O educador necessita de constantes reflexões sobre os fundamentos da ação educativa da escola buscando analisar os procedimentos e as práticas educacionais bem como os resultados para o ser humano e para a sociedade como um todo O modelo educacional atual ainda formal e arcaico longe de atender aos anseios do ser humano necessita de uma guinada que desafia o educador para uma mudança radical para que possa cumprir adequadamente suas funções Sabemos que só ocorre educação quando há crescimento pessoal, interpessoal e intergrupal que acontece com conscientização da realidade e orientação para o exercício pleno dos direitos e deveres. O conhecimento da realidade implica em romper preconceitos, reconhecer dificuldades e facilidades, compreender e valorizar valores e saberes, interesses, expectativas e histórias de cada educando. Daí, a importância da afetividade nestas inter-relações. Alves no livro Ao professor com o meu Carinho pág. 52 escreve: “Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva É a fome que põe em pensamento o aparelho pensador Fome é afeto O pensamento nasce do afeto nasce da fome Não confundir afeto com beijinhos e carinhos Afeto do latim affecare quer dizer “ir atrás” O afeto é o movimento da alma em busca do objeto de sua fome É o Eros platônico a fome que faz a alma sonhar em busca do fruto sonhado” (Rubem Alves) Os Parâmetros Curriculares Nacionais, Volume 8, pág. 119 1997 cita: “Para crianças que talvez, não recebam o mesmo tratamento em outros lugares, a vivência de um relacionamento respeitoso, sem discriminações, será riquíssima aprendizagem: dar-lhes-á consciência e força para se indignarem quando acontecer de serem desrespeitadas na vida cotidiana.” É claro que, no processo de ensino, a escola deve dar ênfase aos aspectos cognitivos, no entanto, a criança não necessita apenas de conhecimento em todos os campos. O ser humano é também afeto, carinho, atenção e, este é também dever da escola, como o é também a formação do sujeito ético, moral e espiritual. Muitos educadores são fechados ao valor do afeto e encontram teorias para justificar-se. São educadores, com as quais não adianta conversar ou argumentar sobre certos valores; simplesmente não enxergam. São aqueles que não entendem a importância de todas as fases da vida; não percebem que essas afirmações não manifestam apenas um fato psicológico sobre nossos sentimentos, mas são o reconhecimento de qualidades que exigem de nós respostas adequadas. São surdos-cegos emocionais. Foi buscando argumentos para mostrar a estes educadores a importância do afeto que este trabalho foi idealizado Este trabalho realizado pela professora Maria Rosa de Siqueira fruto de sua experiência como educadora, iniciada em 1966, e de observação junto a educadores e educandos de escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental, até a 4a. Série, da Região Administrativa de Ceilândia Distrito Federal se propõe a ser fonte de pesquisa e reflexão para educadores: mães pais e professores Procurou-se detectar problemas relacionais e colher sugestões de como melhorá-los bem como, relacionar os benefícios que poderão advir quanto a presença da afetividade, além de questionar quanto as possíveis consequências da indiferença no relacionamento educador x educando. A técnica foi a de abordagem direta solicitando a confirmação da hipótese, para que se captasse de forma mais real o sentimento dos entrevistados. Partindo desta concepção, a operacionalização ocorreu enfocando o aspecto da afetividade recíproca: importância, facilidade e prazer no agir com companheirismo, com amizade e afeto. Buscou-se detectar as dificuldades quanto ao relacionamento afetivo entre educador e educando, bem como a importância do assunto no sentido de se atender aos pressupostos e fundamentos teórico-práticos. A intenção foi buscar uma amostragem da visão do educador quanto a questão da afetividade bem como, levantar sugestões para as dificuldades detectadas. Foram trabalhados os sentimentos e emoções da vivência individual e social dos envolvidos quanto a sentimentos do educador e dos educandos; dificuldades do educador; sugestões para a melhoria do relacionamento e qual o sentimento dos educadores com relação aos educandos. O diagnóstico obtido foi comparado com os dados propostos nos Parâmetros Educacionais do Ministério da Educação quanto aos temas transversais e aspectos emocionais que envolvam Valores para a Melhoria da Qualidade de Vida. Com o diagnóstico foram elaboradas sugestões de atividades que servirão como subsídios, para currículos e Planos de Ação de escolas, objetivando a melhoria contínua do processo educativo com ênfase na importância da qualidade da afetividade do educador para com o educando. A humanidade vivencia, atualmente, a época em que as mudanças, em todos os campos do conhecimento, ocorrem da forma mais rápida que se tem conhecimento. Tais mudanças, principalmente as que ocorrem no campo comportamental e social tem aumentado a responsabilidade das instituições educacionais quanto ao aspecto da formação integral do ser humano. Para que a escola possa cumprir este papel as pessoas envolvidas em todo o processo de transformação da informação em conhecimento devem se conscientizar que precisam preparar o coração, a emoção do educando. Para alcançar este objetivo é necessário que o educador respeite o educando, trate-o com carinho e consideração, com afeto e amor, é necessário que a escola mude, pois até agora a ênfase tem sido maior na exigência da disciplina até mesmo com ameaças psicológicas. A busca de uma nova escola é um dos maiores desafios do Terceiro Milênio. Assim escreveu NETO (2001): “Quando falamos em mudança, logo pensamos em grandes e concretas transformações. Por esta razão, qualquer tipo de mudança real e verdadeira deve ser iniciada... pela transformação de dentro para fora, da crença, dos pensamentos, dos valores.” (Antonio da Costa Neto) O que se propõe é iniciar uma nova mentalidade, que basta ser iniciada, basta lançar a semente pois “... se algumas pessoas engajam-se no ritmo novo... outros são vigorosamente repelidos por ele...” (Alvin Toffler) Parece que a situação é opcional: permanecer na condição estática, ou reagir para salvar a escola, fazendo-a cumprir o seu verdadeiro papel: o de desenvolver a cognição em todos os aspectos para que o ser humano se realize por meio do desenvolvimento integral. Se analisarmos a história da educação, comparando com a educação atual concluiremos que muita coisa mudou, modificou mas a essência continua a mesma: enquanto a construção do conhecimento estiver baseada em exigências e chantagem ao invés de motivação, estimulação e enquanto o educador não for capaz de cativar o educando, com amor e carinho, o sistema educacional continuará distante de cumprir seu papel. O invisível é parte do visível. Neste novo século, romper barreiras, comunicar-se, relacionar-se, valorizar a vida, dizer não ao egoísmo, substitui-lo por afeição, ajuda mútua, solidariedade deve ser a base da educação porque quando o educador entende isso, se convence que para orientar a construção do conhecimento tem que preparar o coração, a emoção. Como disse o professor Moacir Gadotti em sua Palestra no IV Congresso de Educação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal “Não dá para separar emoção do conhecimento”. OS CAMINHOS QUE LEVAM AO FRACASSO No final do século passado, catástrofes, atentados, guerras, violência, sequestros, fome, aumento do uso indevido de drogas, aparecimento de novas doenças gerou na população mundial, desânimo, descrença, descrédito com sérios reflexos no processo ensino aprendizagem. As pessoas desacreditam de tudo, da religião, da política, dos governantes, da justiça, da honestidade. Na escola o castigo psicológico continua a ser prática comum e aceita por todos na tarefa de educar. É a tradicional educação pelo medo. Punir o educando retirando-lhe pontos na nota ou suprimido algo que ele goste desgasta a relação educador-educando, pois intimida para reduzir ou suprimir a atitude indesejada. Deixa de educar sentimentos e emoções, de construir valores pela reflexão e análise do ocorrido para compreensão e alteração da atitude indesejada. Quase sempre, o resultado da punição é a agressividade, a revolta, o desânimo e o desinteresse. As ações corretivas aplicadas até meados do século passado que levavam a disciplina pelo medo são consideradas absurdas para os dias atuais. Porém o castigo psicológico continua a ser aceito Buscar alternativas viáveis para substituir os castigos é uma das grandes dificuldades e preocupações dos educadores. A experiência comprova que repreensões, castigos e agressões geram revolta, desafio para executar o proibido anseio e busca pelo educando de formas de abandonar os educadores (da família e da escola) o mais rápido que consiga. Como escreveu Neto em seu Livro: Paradigmas em educação no Novo Milênio: “Vivemos a crise de início de século e de milênio e, se quisermos sobreviver a ela, não podemos medir esforços para a mudança drástica deste ciclo vital.” (Antonio da Costa Neto) Um outro problema é que educadores, pais e professores possuem uma negatividade e pessimismo, ocultos em sua linguagem de todo o dia. O modo como pais e professores falam com as crianças lhes ajudará a saber como devem sentir-se quanto a si mesmos. O que as crianças ouvem de negativo afetam sua autoestima e seu auto valor. Grande parte das mensagens que os adultos dirigem às crianças são para desconfiarem da sua percepção, negar seus sentimentos e duvidar de seu próprio valor. É comum culpar e envergonhar as crianças, pregar e passar sermões, mandar e tiranizar, advertir e acusar, ridicularizar e menosprezar, ameaçar e subornar, diagnosticar e prognosticar - essas técnicas brutalizam, vulgarizam e desumanizam as crianças. A sanidade só aparece quando confiamos na nossa própria realidade íntima e essa confiança só se aprende pelo processo da verdadeira comunicação com amor e carinho. Um dos motivos das dificuldades e até mesmo dos fracassos da escola tem sido porque se tornou um local onde se educa para a ganância do lucro desenfreado, para enganar o outro, “passa-lo para trás”. Emoções, sentimentos deixam de ser objeto de educação que deixa de se preocupar com a felicidade e a realização pessoal do outro. Neste tipo de escola não há preocupação com a afeição. Indivíduos motivados pela afeição e estímulo tendem a ser criativos, inconformados, agentes de mudanças e nem sempre é o modelo desejado, fácil de adaptar-se a qualquer sistema já definido e de tradições arraigadas no inconsciente dos educadores. Assim é mais fácil permanecer na condição estática, mas é urgente reagir para salvar a escola, fazendo-a cumprir o seu verdadeiro papel: o de desenvolver a cognição através de um ser humano que se realize. O invisível é parte do visível. Neste novo século, romper barreiras, comunicar-se, relacionar-se, valorizar a vida, dizer não ao egoísmo, substitui-lo por afeição, ajuda mútua, solidariedade é a base da educação. Como escreveu Celso Antunes, “...o milênio que se inicia... atingirá o local onde os professores o levarem.”

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